E uma decepçãozinha aqui e ali.
Ando pesquisando sobre o Rock'n'Roll... onde ele começa e quando ele acaba. Descobri que sou velho.
Texto de hoje:
"
Tinha acabado a apresentação,
ainda havia algumas pessoas sentadas, conversando na platéia, isso me
incomodava um pouco. Era como se meu trabalho de atriz não fosse forte o
suficiente para expulsar essas pessoas do conforto de suas cadeiras e irem
buscar refúgio nas suas casas, ou buscar uma fuga fácil em qualquer beco da
cidade. Queria que minha realidade queimasse suas almas. Qualquer artista não
estranha o fato de usar o termo “realidade” quando está falando de uma
“fantasia”. Na arte as coisas meio que perdem o sentido que as pessoas dão para
os sentidos. Sentei na beira do palco, peguei uma garrafa de água e fiquei
esperando o camarim esvaziar para poder tirar a maquiagem em paz.
- Oi.
Era pequena e magra, não era feia
o suficiente para ser notada, mas nunca seria o que chamam por aí de “bonita”.
- Gostei muito.
- Do meu cabelo.
Ela riu. Mas com o corpo todo. De
um jeito que se alguém olhasse de longe, parecia ser um exagero. Daqueles
típicos das pré-adolescentes que precisam chamar a atenção. Mas não foi isso,
foi espontâneo. De um jeito puro.
- Não boba, da peça.
E já está me chamando de boba.
- E já está me chamando de boba?
Dois ou três tons de vermelho
correm por baixo de sua pele e mudam toda a cor do rosto dela.
- Não, não é isso. Eu.. me desculpe.
- Estou brincando.
- Vocês saem depois da peça?
- Vocês, quem? O pessoal do grupo? Essa
irmandade fraterna chamada atores pobres do teatro moderno? Ou contemporâneo,
sei lá.
- Vocês, da peça.
- Às vezes sim, eu saio sozinha. Eles vão para
festas e bares para encontrarem os outros da mesma estirpe.
- Eu gosto dessa palavra: estirpe.
- Ela fica bem na sua boca.
Mais tons de vermelho, com rosa e
roxo. Estou me encantando.
- Eu preciso ir.
- Não, não precisa.
- Você precisa tirar a maquiagem.
- Não, não preciso.
- E eu não quero atrapalhar.
Tarde demais, menina. Eu já estou
toda atrapalhada.
- Eu vou indo, então.
- Sozinha?
- Sim.
- Você tem opção, você sabe.
Cala a boca!
- Eu não entendi.
- Se você me esperar um minutinho, eu posso te
explicar tudo.
- A vida, o universo e tudo o mais?
Agora, eu que sorrio. Dou um
salto, fico em pé e ainda estou mostrando mais dentes que o necessário para uma
comunicação social e saudável. Saio correndo em direção da escada. Quero tirar
todo esse pancake e fazer qualquer coisa com esse cabelo. Meu cérebro está a
mil e meu coração também. Acho que é isso que eu queria, esse sentimento no
público. Sentimento de urgência, de saber que a vida é outra coisa do que isso
que estamos acostumados. Eu queria que o público sentisse a experiência física
da euforia de uma paixão. Céus, acabei de dizer que estou apaixonada. Já não
sei mais se é fantasia ou realidade, e não me importo. E não me incomodo se
isso durar o mesmo tempo que a peça. E quando acabar, nem vou ficar esperando
pelos aplausos, só vou querer agradecer por ter vivido isso."
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