"Eram 14:37, e era meu último
cigarro. A padaria não era longe, mas não tinha mais dinheiro. Tinha no
dinheiro no banco, mas no caixa eletrônico não se sacava menos de 5 paus. Eu
falei isso para ela, e ela me corrigiu séria: “É 05 pau, não existe plural em gíria.”,
atônita, fiquei sem me mexer por segundos, até ela rir: “Boba, é brincadeira.”
Como ela fazia isso comigo? Ela me deixava estática, sem reação, e parecia
fácil para ela. Eram 14:37. Sei disso porque ela ia embora mais cedo, e eu
ficava preocupada com o horário. Ansiosa, peguei o último cigarro e coloquei na
boca e procurei os fósforos. Ela não gostava que eu fumava perto dela. Gostava
de longe, achava bonito, me disse uma vez. Mas de perto não. Fedia, e ela tinha
que beijar um cinzeiro. Falava sempre. Estava procurando os fósforos. Ela me
disse uma vez que eu tinha problemas freudianos. “Um pau na mão pegando fogo,
um cilindro na boca dando prazer... sei não, acho que sou só uma manifestação
de um distúrbio.” Na época eu não sabia que ela brincava sobe tudo, e fiquei
incomodada. E atônita. Por alguns bons segundos. Ela me roubou horas da minha
vida, de tanto que me fez ficar chocada. Achei os fósforos, e antes de riscar,
ela me disse: “conhece o cigarro James Bond?”. Disse que não, e ela sabia que qualquer
menção a qualquer filme que envolvesse mulher bonita e espionagem teria toda a
minha atenção. “É assim, ó”, pegou o cigarro da minha boca, olhou para mim, e
mais rápido do que eu pudesse perceber, quebrou o cigarro no meio, rasgou ele
com um puxão, colocou uma parte na orelha e outra fez como um microfone, e
disse: “Alô?”. E riu. Riu gostoso e alto. Eram 14:37. Era meu último cigarro.
Ela ria de si mesma. E me deixou ali. Quieta. Sem reação. Imóvel. Por alguns
malditos segundos."
terça-feira, 23 de abril de 2013
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