"Ela ficou olhando aquela flor
amarela por um tempo antes de arrancá-la. Tó. Estendeu o braço para o lado num
gesto seco. Era a menor frase que já tinha dito e cabia tanta coisa dentro
dela. A flor foi recebida em sorrisos e silêncio. Caminhavam juntas em direção
a algum lugar que deveria existir mas não sabiam onde. Entenda, ela tentou de novo,
eu não consigo ser “mulherzinha”, se for isso que você está procurando. Se arrependeu
da péssima escolha de palavras numa bufada. Guardou as mãos no bolso e decidiu
ficar quieta, não era a favor da auto-sabotagem, apesar de sua larga
experiência no assunto. Poderia ter escutado a outra piscar, mas seus ouvidos
estavam atentos nos sons que fazia enquanto engolia a própria saliva. Mas parou
quando ouviu: olha. Parou, virou o rosto para aquela mulher bonita do seu lado,
e sentiu suas mãos ficarem frias. Olha, a gente está andando uma do lado da
outra há muito tempo. Eu aprendi na escola que as paralelas se encontram no
infinito. Eu não quero esperar tanto assim. A abraçou e esperou que o beijo
viesse. Não esperou tanto tempo assim."
terça-feira, 28 de maio de 2013
segunda-feira, 27 de maio de 2013
PAULICÉIA CITY
-onde os males morrem no estômago-
Nada que saía daquela boca
era realmente assimilado.
O rancor amarrava os meus lábios.
A náusea me tonteava
e havia o desgosto e a decepção.
Sentimentos antigos entraram sem pedir licença
e dentro de mim
bateram para valer.
Fugi como pude
e sentei num balcão
num canto afastado da cidade
pedi um hambúrguer com tudo que eu conhecia que pudesse me
fazer mal.
Veneno se trata veneno.
Tendo algo para digerir que não fosse minhas próprias vísceras
finalmente pude respirar
E conseguir chorar.
sexta-feira, 24 de maio de 2013
"De nada me valem essas
modernidades que ouço, que vejo. Não me importa se é tela retina ou não, não é
definição que me falta. Tanto me faz se é LED, ConfotLight, danem-se, não é
esse brilho que estou procurando. Os Gigas, os Wi-fi, as Redes sem senhas, nada
disso me deixa mais perto de você.
A sua foto na tela touch do meu
celular, não tem a menor graça da tua pele."
quinta-feira, 23 de maio de 2013
"Ele tinha aquele apontador em
forma de capacete quando criança. Era diferente, caro, causava inveja. Não
durou dois meses. Primeiro quebrou, depois roubaram. Anos depois teve aquele apontador
que era uma caixinha retangular transparente, o apontador de fato, era amarelo.
Durou anos. Mas também se perdeu. Faz anos. Hoje ele usa uma faca.
Hoje ele estava afiando um lápis
preto, dava golpes em diagonal com sua faca, lascando a madeira, desprotegendo
o grafite, criando pontas. Gostou do resultado e divagava lembrando que a ordem
de matar Garcia Lorca, foi justificada dizendo que ele era mais perigoso com
uma caneta que com um revolver. Pensou em outros perigosos que conviviam na sua
estante. Pegou outro lápis. Pensou que se a situação continuar assim, teria que
tirar um porte de armas para poder comprar o Bukowski no fim do mês. Pegou
outro lápis. Pensou que quando isso acontecer com certeza seus Fantes, Rimbauds,
e leminks já teriam sido confiscados. Sem pensar pegou uma caneca, e deu um
golpe certeiro. Pensou, todo coberto de um sangue Bic azul, que sim, literatura
era algo perigoso em mãos erradas"
quarta-feira, 22 de maio de 2013
"Aqui passava o bonde. Pensou,
enquanto dava um pontapé de leve numa pedrinha. Aquela pedrinha deve ter uns
500 anos, ou mais. Foi instantâneo o pensamento, no momento que foi coberta
pela sombra de um sobrado. E esse sol meu Deus, há quanto tempo? Estava
marcando o passado a cada passo. Estava assim, desde que percebeu que havia um
tempo para tudo. Se para tudo há um tempo, há quanto tempo para tudo? Perguntou
para si mesma, naquela confusão onde só ela se entendia, e nada importava, pois
nunca havia respostas. Eu nunca sei as respostas, eu só ponho para fora as
palavras e elas se encaixam, e as vezes acertam. Será que foram as palavras
certas, agora há a pouco? Se foi a pouco, porque digo “agora”? Estava cansada
de se confundir, ainda mais sabendo que era de propósito. Não tinha dado
nenhuma resposta porque, na verdade, não fora feita nenhuma pergunta. Lhe
pediram um tempo, ou lhe deram um tempo, ela não saberia dizer. Só sabia que as
coisas consomem tempo para se tornarem as coisas. O bonde sobre as pedras
iluminadas pelo sol teve seu tempo. E ela agora tem o dela. Tinha lhe dado um
tempo, ou pedido, não sabe, e por isso voltava sozinha para casa. Até quando?
Não perguntou, não tinha tempo para resposta."
terça-feira, 21 de maio de 2013
Terças Lés
"Ela se espreguiçou toda gostosa e percebi que esse era a melhor redundância de toda a minha vida. Impossível ela se espreguiçar menos gostosa. Impossível eu querer sair do lado dela, mas ela sai da cama e eu que ficar aqui. Pronto, meu primeiro conflito do dia, e o dia nem começou ainda. Ela tira a camisola e joga em mim, rindo. E falando alguma que não ouço, porque começo a pensar se há contradição no fato de que gosto dela de camisola, e ela talvez gostasse de mim de camisola, mas só consigo dormir de camiseta. E se nós duas estivéssemos de camisola, ninguém dormia. Ok, estou oficialmente excitada, pulo da cama e vou atrás dela. Já está de jeans e o café no fogo. Enfio minhas mãos dentro da sua calça, aperto e roubo um beijo. Ela me manda colocar uma roupa. Só coloco depois de você tirar a sua. Ela diz que a gente está sem tempo para isso, e que não quer nada rápido. Dane-se, a gente se atrasa. E estou pronta para quebrar mais uma promessa de chegar mais atrasada no ensaio. Ela fala que eu não devia fazer isso. É, eu também acho que não, mas percebo que ela está falando da minha boca no seu seio, e não de trabalho, então nem ligo. Suas roupas estão no chão e nós estamos de pé na parede. Ela fala algo sobre fogo. Eu sorrio por dentro, e meus dedos sorriem junto comigo. Ela fala sobre o fogo e eu só entendo o que ela diz quando ouço o café fervendo, derrubando, e sujando o fogão. Desligo o gás, e ela fala que fodeu. Eu me viro, sem vergonha nenhuma. Mas eu nem comecei ainda."
segunda-feira, 20 de maio de 2013
PAULICÉIA CITY
-onde há lobisomens fêmeas-
Ela me mostrou aquele pedaço de tecido
que chamava de calcinha.
Tirou a blusa e me inundou a vista
com seus enormes e belos seios.
Pegou em mim
apertou entre os dedos
e me xingou maliciosa.
Então ela me corrigiu o português
Mas foi só porque ela queria briga.
sexta-feira, 17 de maio de 2013
"Ela cuspiu no chão. Fala na minha cara se você é homem. Ele
ficou quieto. Repete, seu corno. Ele ficou quieto. A mão dela segurava firme na
mesa. Havia traços de ódio em cada músculo retesado. O colo dela, que era tão
calmo e belo, estava em erupção. Sua coluna estava arqueada, era praticamente
uma felina. Uma leoa que defende a cria, uma tigresa que defende a honra. Fala
alto, seu bosta. Ele ficou quieto. Não passou nada na cabeça dela, não havia
espaço para pensamentos, ela era toda reação. Ela era pequena, magra, bonita,
era divertida, inteligente, sorriso manso. Não era difícil achar que era
frágil. Não era inteligente imaginar que fosse boba. “Sou rápida, não fácil”
poderia ser sua tatuagem, mas não era do tipo que se deixasse ferir, mesmo por
estética. Se você não vai falar nada, então é melhor ir embora antes que eu lhe
cubra a cara de porrada. Ele ficou quieto."
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