"Havia coloridos diante dela, mas
ela disfarçava em tons de sépia. Havia nanquim, Polaróides, tesoura sem ponta,
e um corretivo que ela nunca chamava de “branquinho” porque essa palavra lhe
lembrava “coisas de menino”. Ele sempre chamava os homens de meninos. Há muito
não conhecia um que pudesse chamar de homem. Pelo menos não de seu. Afastou o
pensamento e a franja dos olhos ao mesmo tempo com um gesto de cabeça. Se se
lembrasse do Tarantino, teria feito seu próprio efeito sonoro. Não tinha tempo
para isso. O mundo andava moderno demais envolta dela, que era a que girava
mais rápido no salão, assustando as menininhas e os menininhos de todas as
idades. Ela gostava quando assustava. Ainda gosta quando assusta, com suas
frases e bocas; porque “cara”, ela sempre teve a mesma. Infeliz de quem está
triste no meio dessa confusão. Riu de si. De suas memórias e de suas ações
atuais. Diria “traquinagens” se seu vocabulário fosse do tipo que revelasse
descaradamente seus pensamentos. Deixou tudo em cima da mesa e foi pegar uma
jaqueta. “Cansei” disse do nada, para ninguém, sobre nada realmente feito. Já
era noite, e isso era motivo suficiente para não se estar onde quer que fosse. Então,
ela não estaria em casa.
Levou seus feitos e confusões para darem um volta e, quem
sabe, não voltarem sozinhos. Nenhum dos três."
sexta-feira, 3 de maio de 2013
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