"Ele tinha aquele apontador em
forma de capacete quando criança. Era diferente, caro, causava inveja. Não
durou dois meses. Primeiro quebrou, depois roubaram. Anos depois teve aquele apontador
que era uma caixinha retangular transparente, o apontador de fato, era amarelo.
Durou anos. Mas também se perdeu. Faz anos. Hoje ele usa uma faca.
Hoje ele estava afiando um lápis
preto, dava golpes em diagonal com sua faca, lascando a madeira, desprotegendo
o grafite, criando pontas. Gostou do resultado e divagava lembrando que a ordem
de matar Garcia Lorca, foi justificada dizendo que ele era mais perigoso com
uma caneta que com um revolver. Pensou em outros perigosos que conviviam na sua
estante. Pegou outro lápis. Pensou que se a situação continuar assim, teria que
tirar um porte de armas para poder comprar o Bukowski no fim do mês. Pegou
outro lápis. Pensou que quando isso acontecer com certeza seus Fantes, Rimbauds,
e leminks já teriam sido confiscados. Sem pensar pegou uma caneca, e deu um
golpe certeiro. Pensou, todo coberto de um sangue Bic azul, que sim, literatura
era algo perigoso em mãos erradas"
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