quinta-feira, 23 de maio de 2013



"Ele tinha aquele apontador em forma de capacete quando criança. Era diferente, caro, causava inveja. Não durou dois meses. Primeiro quebrou, depois roubaram. Anos depois teve aquele apontador que era uma caixinha retangular transparente, o apontador de fato, era amarelo. Durou anos. Mas também se perdeu. Faz anos. Hoje ele usa uma faca.
Hoje ele estava afiando um lápis preto, dava golpes em diagonal com sua faca, lascando a madeira, desprotegendo o grafite, criando pontas. Gostou do resultado e divagava lembrando que a ordem de matar Garcia Lorca, foi justificada dizendo que ele era mais perigoso com uma caneta que com um revolver. Pensou em outros perigosos que conviviam na sua estante. Pegou outro lápis. Pensou que se a situação continuar assim, teria que tirar um porte de armas para poder comprar o Bukowski no fim do mês. Pegou outro lápis. Pensou que quando isso acontecer com certeza seus Fantes, Rimbauds, e leminks já teriam sido confiscados. Sem pensar pegou uma caneca, e deu um golpe certeiro. Pensou, todo coberto de um sangue Bic azul, que sim, literatura era algo perigoso em mãos erradas"

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