"Ela estava em outra. Não que fosse
alienada, dissimulada, nada disso. Só estava feliz, e ocupada demais com o que
chamaria de suas “pequenas coisas”, para dar toda a tenção que aquele sujeito
ali falando estava querendo. Ela já
tinha sorrido e dito bom dia, o que mais uma pessoa pode querer? Afeição? Que vá
comprar um par de sapatos e não me incomode. É o que ela pensaria, e talvez até
diria, se percebesse o que estava acontecendo. Ela não era esnobe, não era tímida,
nem autista. Só estava em outra, estava na dela. Ela merecia. Usava uma roupa
nova, sapatos que gostava tanto, e tinha ouvido aquela música que sempre a
fazia dar um sorriso. Era de manhã, o sol estava gostoso, o caminho era agradável,
a companhia é que não saberia dizer. Era resultado do acaso, nada para se
preocupar. Se conseguisse desligar a música que tocava dentro da cabeça, teria
ouvido o rapaz falar mal dos fast food’s, do uso criminoso da pele dos animais
para roupas, bancos de carro, bolsas e sapatos. A vida acontece quando menos se
espera. Ouviu a palavra sapatos, palavra que também tinha acabado de cantar em
pensamentos no meio de um acorde simples de música pop, no mesmo instante tina
pisado numa caixinha colorida largada aberta com um hambúrguer xexelento
dentro, que estraçalhou em sua sola.
Malditos! – grunhiu, com raiva,
enquanto levantava a perna e analisar o estrago.
Você também odeia eles? –
perguntou com esperança aquele que não imaginava que não estava sendo ouvido.
Não, não. Eu os amo. – Disse com
sinceridade, falando de seus sapatos, confundindo ainda mais aquele garoto."
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