quarta-feira, 18 de setembro de 2013

rasc.


"Pequenas gotas salgadas caíam perto dos seus pés. O vento estava suave, e seu barco a embalava calmo. O dia estava claro e sem sol. Ela estava cansada e dormiria fácil. Se não fossem os golfinhos mortos."

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

PAULICÉIA CITY



-mulheres que amei-
Tinha Paixão
no nome, no olhar  e na mordida
Tinha um oceano de desejo
onde eu me afogava
Onde eu tentava me manter salvo
agarrando isopores de desculpas
tábuas de passado sombrio
algumas bóias de remorso.
Desmaiei e afundei.
Quando acordei ela não estava mais lá.
Sem sereia, sem mar, sem paixão
um naufrago besta que alcançou uma praia sem graça
chamada de vida-sem-ela.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Capixaba Crônica



"Tinha triscado a pintura da unha. E riu alto pensando na palavra “triscado”. Fechou rápido a boca com medo do que pensariam dela rindo alto de repente. Abriu ainda mais os olhos quando fechou rápido a boca. Ao contrário do que se espera, o abrir ainda mais os olhos, não a fez enxergar melhor. Gastou uns 04 segundos para “consertar” a vista e perceber o que estava diante dos seus olhos. Diante dos seus olhos havia sua mão, com suas unhas mal pintadas, com o esmalte todo triscado. Riu alto quando pensou na palavra “triscado”. E desistiu de fechar a boca"

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Rascunho Carol



"Ela estava sorrindo. Não havia muitos motivos para isso, mas nem pensava nisso, sorria e pronto. Esticou os braços, as pernas, cheirou a própria pele, e lembrou de uma história engraçada que é particular demais para registrar aqui. Decidiu pela roupa que usar a noite começando pela lingerie, que era simples, bonita, nova e confortável. Do jeito que gostava. Não tinha o que reclamar do seu corpo, até agora ninguém nunca tinha reclamado, e sabia que não era uma roupa que ia ficar escondida a maior parte da noite que ia lhe deixar mais bonita. E também, se houver tempo e luz suficientes para analisar a calcinha e o sutiã, para que eu vou então, né? E deu uma fungadinha no fim do pensamento. Para confirmar o pensamento e dar um jeito numa coceirinha no nariz. Saiu andando até o quarto para confirmar se ia de saia ou calça. Mulher quando quer, quer. Escolheu a saia e foi para o banheiro. Lavando os cabelos começou a pensar nos motivos que a levou a aceitar o jantar, mesmo imaginando onde seria o café-da-manhã. Achou que eram motivos suficientes, e desligou o chuveiro cantando uma música que era mais velha que suas roupas. Riu de sua própria vergonha. Quando terminou a maquiagem simples, gostou do que viu. Ainda estava sorrindo. Ela era sincera e sorria quando queria. Foi atender a campainha pagando todas as luzes que ia deixando para trás. Abriu a porta e gostou do que viu. Ela sorria e pronto."

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Rascunho Dayana



"Ela piscou duas ou três vezes. Um pouco mais rápido que o normal. Precisava ficar atenta e isso não estava sendo fácil. Mordeu o lábio inferior como um tique. Sentiu o gosto do próprio batom e voltou para o devaneio. Pensou em qual serio o fim do livro que estava lendo. Cantou um treco de uma música que costumava ouvir. Imaginou que seria uma grande baterista se tivesse tempo para isso. Lembrou de uma roupa que queria comprar. Contou mentalmente o troco do ônibus para saber se dava para comprar um churros ou não. E riu porque lembrou do Chaves e do churros da Dona Florinda.
O rapaz estava falando horas, falou sobre teorias da comunicação, sobre dramaturgia contemporânea, sobre eventos gratuitos e sobre como seria vantajoso para ela, receber um beijo dele. Foi nesse momento que ela riu.
Ele imaginou que ela estava fácil.
Ela ficou pensando em como sair fora rapidinho porque começou a sentir um pouco de fome.
Ele perguntou o que ela achava disso tudo, o que mais lhe interessava.
Ela respondeu doce de leite. E lambeu os lábios.
Ele piscou duas ou três vezes. Um pouco mais lento que o normal. Precisava entender o que ela tinha respondido.
Ela já tinha dado tchau, e descido a rua, indo para o ponto.
Ele ainda não tinha percebido."

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

PAULICÉIA CITY





-mulheres que amei-

Ela sempre acreditou
que tudo que eu disse
era mentira.
E me sorria.
Eu sempre tive medo de dizer que era verdade
Medo de ver aquele sorriso
sumir.
Continuei falando verdades tão inacreditáveis quanto
Eu conheci o Papai Noel pessoalmente
ele é bêbado e triste
Eu realmente fiz a maior parte das coisas
que digo que já fiz
e
eu ainda te amo.
E ela continua sorrindo
e seu sorriso me cala a verdade.
Então, me calo.
De verdade.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Rascunho Manuela



"Ela pegou a garrafa de vidro e derrubou sobre si o que restava da água. Andou pela areia da praia arrastando os pés, para achar algo que pudesse usar como rolha. Encontrou um galho de árvore, partido em três. Terá que servir. Rasgou uma tira da barra do seu vestido e uniu o mais forte que pode os pedaços do galho. Caminhou até a beira-mar, pensando na inutilidade do seu gesto. Mas todo sentimento só faz sentido para quem o sente. Satisfeita consigo mesma, só faltava agora a mensagem. Sem muito esforço, derrubou uma lágrima dentro da garrafa. E apertou firme a rolha improvisada feita de restos de uma árvore, e pedaço de um vestido. Será necessário um remetente? Pensou em todas as histórias que viu, ouviu e imaginou, e percebeu que todas as garrafas lançadas ao mar chegavam, invariavelmente ao seu destino correto. Mas por vias da dúvidas, achou melhor beijar o rótulo. Teu nome sempre esteve em minha boca. E lançou. Por cima das ondas. Não esperou para ver sua mensagem à deriva. Estava plena de certezas. E isso bastava."