quarta-feira, 30 de junho de 2010

"Era um tiro de distância, entre ele e eu. Um pouco distante para um afago, perto o suficiente para as palavras, próximos demais para a saudade. Os olhos são poucos, se encontram fácil. Num momento em que os gestos não diziam nada, o silêncio quebrava a rotina e o adeus era uma realidade, a distância aumentava, mas ainda no alcance de um tiro. Não há saudade que não mata, não há gatilho que não dispare, não há razão que exista em vida só. O peito com um coração a menos dói mais. Ainda há um anel a mais. Existem lembranças demais. A distância só aumenta e o tiro ainda ecoa. Até agora não sei quem morreu. Ele ou eu."

terça-feira, 29 de junho de 2010

"Me joga brutalidades na cara e os pratos na parede. Aponta os dedos para o mundo e o nariz para mim. Abre a boca, gane, xinga, cuspe e parece querer morder. Pisa leve apesar do peso da situação. É magra o suficiente para me fazer pensar em como cabe tanto ódio em tão pouco espaço. Sua pela branca, seus olhos azuis, seus cabelos entre castanhos claros e amarelos, sua roupa lilás, uma palheta de cores da loucura de sapatos e unhas vermelhas. A voz um tom acima do normal quando diz “você”, e um tom abaixo quando destila verborragicamente sua coleção vasta de palavrões. Uma ópera. É fascinante o poder de destruição que esta pequena fêmea possui. Me encanta. Me encanta sua gargantilha brilhando por causa da luz, seus olhos brilhando por causa do ódio, sua pele brilhando de suor. Ela é mais bonita assim do que nua na hora do sexo morno. Paixão. Isto é paixão. Seu furor. Me excita. Os arranhões, mordidas, os prejuízos, o falatório dos vizinhos... tudo vale a pena para ver esse momento. Compensa o esforço de inventar uma nova conta de e-mail, arranjar fotos pela net, escrever qualquer bobagem, mandar tudo para um e-mail pessoal que ela tenha a senha e eu finjo que não sei. Vale a pena esperar. Ir no mercado e deixar o computador ligado, esquecer o celular e ligar da rua e desligar quando ela atender, começar a falar de filmes, de comidas, que nunca foram assuntos nossos. Vale a pena. Sua raiva revela o que há de mais belo nela. Se um dia ela chorar, ao invés de gritar, eu vou embora."

sexta-feira, 25 de junho de 2010

"Era uma opção. Correr ou ficar sozinha. As coisas são simples. O que não é simples, não é coisa. Sua vida a tinha carregado até aquele ponto. Ela tinha sido uma turista de seus próprios dias até aquele momento em que corria ou seria incompleta. Seus estudos terminados, suas roupas já compradas, seu jantar já planejado, seu trabalho já indicado. Faculdade, roupa, comida, trabalho, são coisas. Seu celular era uma coisa. Uma coisa que brilhava, tremia, fazia barulho e chamava atenção de todos dentro da loja. Uma frase em fundo luminoso: “ou você vem ou eu vou”. Era uma opção. Correr e ir até o abraço, beijo e recomeço, ou ficar parada e deixar o passado recente ir embora. Largou a sacola e atravessou corredores, portas, calçadas, faróis e vielas, pensando na vida. A vida é uma coisa mesmo."

quinta-feira, 24 de junho de 2010

"Eu não sei se era medo ou ansiedade. Só sei que era mais que simples vontade. Sei apenas que não via um corpo dançando. Via meu homem. Apenas isso. O sol entrando pela janela, a roupa simples de ensaio, a poeira que subia do chão quando ele pisava forte, aquelas castanholas, guitarras e cajons tocando no cd, tudo o que via naquele momento que entrei na sala, tudo aquilo, era para mim. Ele era meu. Meu homem. Ele só não sabia disso. Ainda."

terça-feira, 22 de junho de 2010

"O sol nas suas costas não importava. Nem a grama sintética que era deixada para trás a cada passo. O suor que marcava a linha dos seios, axilas e a borda da gola, que escorria lentamente pela testa, que salgava um pouco os lábios, era apenas um pretexto. Tinha acabado o treino e só pensava em ir ao vestiário depois que todas as outras já tivessem ido. Por isso guardou as bolas, os cones e as cordas sozinha. Por isso que sorriu e disse que estava tudo bem ao técnico e as outras meninas. Não queria saber das outras meninas, só de uma. A boca se mantinha seca, mesmo após a água. A ansiedade fazia tremer os músculos sob a pele, mesmo com a certeza. Não havia dúvidas. Sabia que ela estaria lá, talvez já tivesse tomado banho, já estive pronta e perfumada para ir embora, mas não iria embora assim. Não. Não iria. Desceu os degraus mais rápido que o costume, virou no corredor e quase correu. Abriu a porta e não precisou procurar. Ela estava lá. Ainda suja, cansada,o cabelo um pouco mal preso. Tinha passado uma água sobre o rosto para parecer melhor. Bobagem. Não precisava disso. Não precisava de mais nada para ser linda aos seus olhos. Estava te esperando. Disse quase abaixando os olhos. Sorriram. Eu também. Estive te esperando esse tempo todo. O brilho nos olhos foi longo o suficiente para durar mais do que o primeiro beijo."

segunda-feira, 21 de junho de 2010

PAULICÉIA CITY

-um mar de solidão-


Havia o desejo próximo
e o medo de perder tudo.
Havia um sorriso velado
e a incerteza
Assim como havia rancor
nostalgia
e pequenas frustrações.
Havia o tédio
a desesperança
e uma loucura em tons de amarelo e branco
que corroia tudo
calmamente
Havia um pedido de ficar junto.
Havia uma pergunta.
O que não havia era uma resposta boa o suficiente
para nós dois.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Saramago és morto!

Me lembro exatamente quem são as pessoas que lamentei neste blog.
Me lembro como estava, como fiquei com as notícias de suas mortes.
Para cada um escrevi um textinho simples, com toda a tristeza que me percorria.
Não serei capaz de fazer isso agora - E agora José? Estamos perdendo a lucidez.

Que esteja em paz, mas meu desejo era que não descançasse nunca.

Obrigado.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Continuando sobre estréias...


EU QUERIA SER A CASSIA ELLER

A segunda peça da trilogia, finalmente exposta. Esse dia foi muito especial, porque além da estréia lancei o livro e vi o Marião!

Vamos por partes:

Peça: É a mais lésbica de todas! Digo isso, porque essa história, como ela se apresenta, só pode ser apresentada num contexto lés. Estou trabalhando com pessoas muito queridas! São 05 atrizes em cena, queria fazer com 07, dá para fazer com 03. Que comentário besta.
Rsrsrs

Se eu fosse você, eu iria!

Livro: Lancei meu primeiro livro que é justamente os textos que compõem a Trilogia Lésbica. Um bom livro.

Marião: O Marião passou na porta do teatro, falou com o Bac, e encontrei com ele sem querer. Acho que ele nem sabe que estou ali em temporada (ele tem receio das minhas peças e iria odiar o Cássia, ia gostar do Les, e não sei qual seria sua reação sobre o Conheci uma pessoa) Mas não é isso que interessa! O que interessa é que vi o Marião, de cabelo pintado e tudo. E ele está bem! Eu tive que sair correndo buscar uns lanches do coquetel que chegaram atrasados, e nem pude falar com ele. Mas ele está bem.
Quando fiquei sabendo que ele tinha levado um tiro, eu escrevi uma mensagem cheia de drama, porque eu estava chorando que nem criança... Ano passado eu fui num evento e um cara tentou levar a bolsa da garota que estava comigo e eu sem pensar dei um tapa na mão do cara (ridículo, né? Um tapa.) e o moleque levantou um revolver e atirou. Eu senti um vento e o barulho no meu ouvido, não sei se o cara errou, se era de verdade, mas em segundos eu pensei: eu podia estar morto. E o Mario tinha levado um tiro, ele podia morrer porra! Não consegui ir no hospital, porque ia fazer vexame, e não consegui assistir suas peças porque nos dias livres estavam lotadas... Não via o Mario desde o ano passado. Quando vi aquele cara enorme, me olhando torto e falando “aí Ventura”. Puta que pariu.... eu vi que estava tudo bem. Valeu ter estreado, valeu lançar o livro... O Mario está bem.


Talvez você não entenda a última frase acima... e que se importa? Talvez alguém pense que é um pensamento errado comparar uma coisa e outra. Amigos e trabalho. Um não justifica o outro. Bem... eu discordo.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Tentando voltar ao normal depois de um período na loucura... A loucura ainda não passou e o mundo está conspirando contra, mas vamos que vamos.

Gostaria de comentar – em ordem – as estréias que ocorreram, antes de voltar a escrever outra coisa.


OFÉLIA

O que você diria se eu te dissesse que ensaiamos essa peça em 5 encontros? O resto foi trabalho solitário da atriz... Se fosse outra que não Ana Cecília Reis, eu teria certas dúvidas sobre o resultado.

O espetáculo foi lindo, serviu muito bem para vermos algumas falhas que em ensaio passam desapercebidas.
Algo que me deixou no peito, foi a certeza de um bom trabalho. A atriz está consciente de tudo. De cada ação, de cada fala, onde deve estar, o porquê de cada objeto. E ela ainda fez tudo no ritmo e no tempo certos. O mínimo que se exige de uma atriz, eu sei... Mas ela fez o seu trabalho e bem.
Talvez você não saiba a importância dessa frase para mim “...fez o seu trabalho” e no quanto está inserido nela minha concepção de teatro... Mas saiba que diz muito.

O que posso dizer é que fiquei orgulhoso dessa nova montagem.


quarta-feira, 2 de junho de 2010

terça-feira, 1 de junho de 2010

Estréia!!



Hoje estreamos a segunda peça da Trilogia Lésbica!

Esse foi um dos textos mais dificeis de escrever, porque quis fugir de tudo que é fácil para mim... Aparentemente o resultado é bem bobo, mas toda a graça está na encenação.

Se eu fosse você, eu iria.

Hoje é GRATIS, e ainda tem um coquetel...

E lanço o meu primeiro livro: TRILOGIA LÉSBICA