terça-feira, 29 de junho de 2010

"Me joga brutalidades na cara e os pratos na parede. Aponta os dedos para o mundo e o nariz para mim. Abre a boca, gane, xinga, cuspe e parece querer morder. Pisa leve apesar do peso da situação. É magra o suficiente para me fazer pensar em como cabe tanto ódio em tão pouco espaço. Sua pela branca, seus olhos azuis, seus cabelos entre castanhos claros e amarelos, sua roupa lilás, uma palheta de cores da loucura de sapatos e unhas vermelhas. A voz um tom acima do normal quando diz “você”, e um tom abaixo quando destila verborragicamente sua coleção vasta de palavrões. Uma ópera. É fascinante o poder de destruição que esta pequena fêmea possui. Me encanta. Me encanta sua gargantilha brilhando por causa da luz, seus olhos brilhando por causa do ódio, sua pele brilhando de suor. Ela é mais bonita assim do que nua na hora do sexo morno. Paixão. Isto é paixão. Seu furor. Me excita. Os arranhões, mordidas, os prejuízos, o falatório dos vizinhos... tudo vale a pena para ver esse momento. Compensa o esforço de inventar uma nova conta de e-mail, arranjar fotos pela net, escrever qualquer bobagem, mandar tudo para um e-mail pessoal que ela tenha a senha e eu finjo que não sei. Vale a pena esperar. Ir no mercado e deixar o computador ligado, esquecer o celular e ligar da rua e desligar quando ela atender, começar a falar de filmes, de comidas, que nunca foram assuntos nossos. Vale a pena. Sua raiva revela o que há de mais belo nela. Se um dia ela chorar, ao invés de gritar, eu vou embora."

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