quinta-feira, 30 de junho de 2011

"Ela tinha tantos pêlos que parecia suja. O cheiro também não ajudava. Estava parcialmente nua – uma frase que acredito nunca ter dito antes. Ainda bem, eu precisava de alguma novidade na vida. Uma mulher, com aqueles olhos, aquela boca, aquela expressão, com restos de suas roupas espalhadas em volta... bem, não era uma novidade. Seria se ela estivesse viva. Mas elas nunca estão. Tirando o fato dela ter o corpo todo coberto de pêlos, ela não difere em nada das outras vítimas. Mesma idade, mesmo biótipo, mesma cidade. Procuro as marcas de sempre, encontro duas: a que ele faz perto da orelha esquerda e a laceração ao lado das costelas. Com calma, encontro uma coisa nova: marcas no cotovelo. Parecem uma mordida parcial. Isso não é comum. Ele nunca morderia, sempre foi esperto. Penso que... procuro perto do corpo... talvez ela fosse mais esperta... me afasto dois, três passos... que as outras e tivesse... procuro e não encontro nada. Volto para o machucado e confio em mim. E confio nela. Eu tenho um carinho especial por ela, gosto de quem luta por algo. Espero levarem o corpo. Agora vou correr em todos os dentistas. Ela conseguiu quebrar alguma coisa, com certeza. Mentira. Não tenho certeza. Mas eu tenho algo que nunca tive até agora nesse caso. Uma questão pessoal."

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