quinta-feira, 25 de abril de 2013



"Ela precisou usar o antebraço para desembaçar o espelho e poder se ver melhor. Não gostava de usar as mãos para nada depois de tomar banho. Se sentia limpa e queria ficar assim. O espelho estava fosco, com um traço de visibilidade no meio. E no meio dele, ela. O banheiro estava ainda cheio de vapores, Seu cabelo ainda estava molhado, sua toalha ainda se mantinha segura, e seus olhos procuravam algo de bom para enxergar. Se via. Isso devia bastar. Mas hoje não. Soltou a toalha Se fosse um filme, teria caído bem devagar sobre seus pés. Mas não era. Apoiou as mãos na pia e chegou mais perto de si mesma, agora um pouco mais translúcida, riscou o espelho com o dedo e só havia seus olhos. Se fosse uma música, seria o momento ideal para uma lágrima. Não era. Piscou. Passou a língua sem perceber sobre os dentes, e se fosse um homem, cuspia. Soltou um som que qualquer um pensaria ser o som de uma resolução. Se fosse a vida dela tudo aquilo, sairia nua do banheiro, com passos firmes e mandaria todo mundo a merda. E era."

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