terça-feira, 21 de setembro de 2010

"Um barulho. Um susto que chega antes de qualquer cheiro ou grito. Os tamancos, sapatos e todos os saltos possíveis se atropelam entre os gritos e pequenos murmúrios de reza.
- Onde está o telefone? Cadê o telefone?
As pessoas só lembravam dele em momentos assim. Telefone era um menino pouco maior que Cego Dalton, só que era quieto. E preto. Outra diferença é que ele só conseguia se lembrar de poucas coisas, mas nunca se perdia, e quando sozinho era extremamente rápido. Cego Dalton também era rápido o suficiente, mas era preguiçoso.
- Meu Deus! Telefone!
Telefone andava meio triste. Fazia favor para as pessoas e vivia daquilo que cego Dalton não queria. Mas não se importava, estava por perto e gostava de ajudar. Dentro da sua pobreza de complexidades, percebeu que gostava mais de dar recados de amor. Gostava mais de dizer as palavras apaixonadas para as pessoas e assim sorria mais. Mas as pessoas só se lembravam dele quando alguém morria.
- Telefone! Cadê você, moleque desgraçado!
Ou em tiroteio, ou em vingança de mulher, ou trapaça no jogo, enfim, em desgraças. Telefone estava cansado de ouvir e repetir desgraças. Decidiu procurar algum lugar onde as pessoas precisavam ainda dizer as outras palavras de amor.
- Da próxima vez a gente prende esse menino! Cadê o Cego Dalton?
Telefone sabia, de tanto ouvir, aprendeu, que não seria em Lucíola que ele seria feliz."

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