terça-feira, 13 de novembro de 2012

Mudanças, estratégias e planos.

E uma decepçãozinha aqui e ali.

Ando pesquisando sobre o Rock'n'Roll... onde ele começa e quando ele acaba. Descobri que sou velho.

Texto de hoje:

"

Tinha acabado a apresentação, ainda havia algumas pessoas sentadas, conversando na platéia, isso me incomodava um pouco. Era como se meu trabalho de atriz não fosse forte o suficiente para expulsar essas pessoas do conforto de suas cadeiras e irem buscar refúgio nas suas casas, ou buscar uma fuga fácil em qualquer beco da cidade. Queria que minha realidade queimasse suas almas. Qualquer artista não estranha o fato de usar o termo “realidade” quando está falando de uma “fantasia”. Na arte as coisas meio que perdem o sentido que as pessoas dão para os sentidos. Sentei na beira do palco, peguei uma garrafa de água e fiquei esperando o camarim esvaziar para poder tirar a maquiagem em paz.
 - Oi.
Era pequena e magra, não era feia o suficiente para ser notada, mas nunca seria o que chamam por aí de “bonita”.
 - Gostei muito.
 - Do meu cabelo.
Ela riu. Mas com o corpo todo. De um jeito que se alguém olhasse de longe, parecia ser um exagero. Daqueles típicos das pré-adolescentes que precisam chamar a atenção. Mas não foi isso, foi espontâneo. De um jeito puro.
 - Não boba, da peça.
E já está me chamando de boba.
 - E já está me chamando de boba?
Dois ou três tons de vermelho correm por baixo de sua pele e mudam toda a cor do rosto dela.
 - Não, não é isso. Eu.. me desculpe.
 - Estou brincando.
 - Vocês saem depois da peça?
 - Vocês, quem? O pessoal do grupo? Essa irmandade fraterna chamada atores pobres do teatro moderno? Ou contemporâneo, sei lá.
 - Vocês, da peça.
 - Às vezes sim, eu saio sozinha. Eles vão para festas e bares para encontrarem os outros da mesma estirpe.
 - Eu gosto dessa palavra: estirpe.
 - Ela fica bem na sua boca.
Mais tons de vermelho, com rosa e roxo. Estou me encantando.
 - Eu preciso ir.
 - Não, não precisa.
 - Você precisa tirar a maquiagem.
 - Não, não preciso.
 - E eu não quero atrapalhar.
Tarde demais, menina. Eu já estou toda atrapalhada.
 - Eu vou indo, então.
 - Sozinha?
 - Sim.
 - Você tem opção, você sabe.
Cala a boca!
 - Eu não entendi.
 - Se você me esperar um minutinho, eu posso te explicar tudo.
 - A vida, o universo e tudo o mais?
Agora, eu que sorrio. Dou um salto, fico em pé e ainda estou mostrando mais dentes que o necessário para uma comunicação social e saudável. Saio correndo em direção da escada. Quero tirar todo esse pancake e fazer qualquer coisa com esse cabelo. Meu cérebro está a mil e meu coração também. Acho que é isso que eu queria, esse sentimento no público. Sentimento de urgência, de saber que a vida é outra coisa do que isso que estamos acostumados. Eu queria que o público sentisse a experiência física da euforia de uma paixão. Céus, acabei de dizer que estou apaixonada. Já não sei mais se é fantasia ou realidade, e não me importo. E não me incomodo se isso durar o mesmo tempo que a peça. E quando acabar, nem vou ficar esperando pelos aplausos, só vou querer agradecer por ter vivido isso."

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