sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

To Stace With Love

Na cena vemos Ele que simplesmente olha para Ela. Ela respira fundo várias vezes, de forma intensa e nervosa. Se prepara para dizer algo. E diz:
Ela – (nervosa) Então pega esse dedo, enfia no seu cu, e rasga até a testa “seu” filho da puta! (desmonta completamente o personagem) O que você achou?
Ele – Isso aí é o texte?
Ela – Claro que não. Isso é o texto. Não é genial?
Ele – Bem, ninguém vai dizer que é um texto difícil, não é mesmo?
Ela – Como assim?
Ele – Que é um texto direto. Todo mundo que ver essa cena vai entender bem o recado.
Ela – Que é?
Ele – O quê?
Ela – O recado. Da cena. Qual é?
Ele – (gagueja) É... para todo mundo... um exemplo.
Ela – De quê?
Ele – (quase nervoso) Do que se deve fazer oras.
Ela – Que seria?
Ele – (nervoso, histérico) Enfiar o dedo no cu, porra. É para todo mundo enfiar o dedo no cu!
Ela – (descrente e divertida) Não tem nada a ver.
Ele – O quê?
Ela – Não é disso que fala a cena.
Ele – Como não?
Ela – Você não estava prestando atenção.
Ele – Quem é que presta atenção em alguém enfiando o dedo no cu.
Ela – Em primeiro lugar, ninguém está enfiando o dedo no cu de ninguém, e se estivesse, faria um sucesso horrores em São Paulo. Em segundo lugar, essa cena fala de amor.
Ele – Isso não me parece uma cena de amor.
Ela – E quem te disse como tem que parecer uma cena de amor? Você acha que todo amor é bonitinho, fofinho, de mulherzinha? Amor é horrível! Amor dói! Bate, apanha, machuca, sangra e não morre
Ele – Amor não morre?
Ela – Não. Ele implode. Ele é engolido pelo mundo, pelo ego, pela vaidade, pelo desprezo. O amor não conhece a sorte de uma morte calma e tranqüila. O amor nunca morre deitado na cama, dormindo. É sempre atropelado por um tanque de guerra, ou explodido por um homem-bomba, ou eletrocutado por um raio. Ninguém fica incólume, ninguém que sobrevive, fica sem cicatrizes, quando amor some, desaparece, deixando como resíduos suas marcas na carne, na pele...
Ele – (quase apático) Ual.
Ela – E então? O que você achou?
Ele – Do quê? Da cena? Do texto? Da sua visão do amor?
Ela – Da cena.
Ele – hummm, perturbadora.
Ela – E da minha visão do amor?
Ele – hummm, perturbadora.
Ela – E de mim?
Ele – hummm, perturbada.
Ela – (cara de deboche)
Ele – Mas você os seus problemas, eu tenho os meus...
Ela – E o quê que tem?
Ele – Que aceitar é mais difícil que querer. E que isso é amor.
Ela – Ta, entendi. Mas da cena, fala da cena.
Ele – Uma bosta.

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