terça-feira, 6 de abril de 2010

Julia – Como assim, “nunca mais”? Não ver Romeu nunca mais... impossível. Isso é a pior sensação que existe: a de inutilidade perante o inexorável. A de sentir um nada diante do destino. Um marionete sem fios, jogado a esquerda. Um joguete. Ai, meu coração. Meu coração, porque não acredito mais em Deus. (entra Romeu pela janela) Só acredito no meu amor. Só acredito no que vejo, toco, sinto e percebo. Só tenho fé em mim. E por nós eu fico de joelhos e faço uma prece. E é só ao meu que me rendo, me entrego.
Romeu – Julia...
Julia – Shhh. Não diga nada. Este quarto é minha catedral, onde encontro com o divino. Onde meu deus, meu Amor, derrama sobre mim suas graças. Onde me avassala. Onde me entrego em sacrifício e onde meu corpo vira carne e meu sangue vira vinho. Meu corpo todo é um cálice repleto do mais puro amor. O amor-deus e nosso ato mortal. Nosso ritual. Nossa missa santa cravada em nossos corpos. Meu corpo é teu. Teu corpo é meu. E na nossa liturgia não há como separar você de mim. Vem! Vamos viver em comunhão, mesmo que para isso tenhamos que morrer aos poucos.

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