quinta-feira, 12 de maio de 2011

continuação da matéria da Neo Tokyo

A ROSA DE VERSALHES

Nos anos 70, houve um intenso movimento feminista, as mulheres queriam mais do que serem tratadas como mãe ou como objeto sexual. Além da luta de serem respeitadas e valorizadas nos ambientes profissionais, haviam suas necessidades pessoais. O casamento por amor era uma novidade, e se tornou uma tendência manter uma relação de amizade entre os cônjuges. E qual mangá que é a idealização desta nova mulher japonesa? Lady Oscar!

Ambientada nos anos que precedem a Revolução Francesa, Berusaiyu no Bara (A Rosa de Versalhes) conta a história de Oscar, uma mulher criada como homem pelo seu pai, que se torna chefe da guarda francesa, responsável pela segurança de Maria Antonieta. A história gira em torno do amor (real) de Maria Antonieta por um conde sueco e, principalmente, em torno do amor de Oscar e André (ambos fictícios). Este mangá foi tão importante que quando Lady Oscar (assim chamada pelos fãs) morreu, houve uma comoção generalizada: Algumas classes tiveram suas aulas canceladas, porque as meninas não conseguiam parar de chorar, houve quem ficasse tão abalado que não conseguiu sair de casa durante dias.
Corajosa e valente, havia feito uma carreira militar de prestígio por meios próprios; conhecera o amor na forma de seu criado, André – que era um amigo de infância; diante das injustiças do mundo se torna revolucionária; e morre defendendo seus ideais na queda da Bastilha. Além de loira, com cabelos longos e fartos, bela em sua androgenia, Lady Oscar era a representação exata do ideal da época onde os papéis sociais pré-determinados estavam sendo discutidos.

ANOS 80


Existe no pensamento japonês, de forma enraizada, que a pessoa mais adequada para cuidar das crianças, e isso justifica o afastamento desta do mercado de trabalho, é a mãe. Devido a isto, o governo incentiva as mulheres casadas a serem “do lar”, recebendo um auxílio financeiro. Parece bom, não é? Mas o que acontece quando os filhos crescem e saem de casa? Quando não há o que fazer além de esperar o marido voltar do trabalho, para comer e dormir? Nunca conversaram durante anos, vão conversar o quê agora? O que acontece? O VAZIO. Foi percebido uma grande insatisfação das mulheres no que seria seu papel social, e isso gerou grandes questionamentos sobre a divisão sexual do trabalho.
E qual a situação da heroína nos mangás em plenos ’80? Bem, digamos que neste momento de grandes questionamentos, a maior heroína da época era... um homem.
Ranma Saotome, do mangá Ranma ½, é um garoto de 16 anos de idade que caiu em uma das Fontes Amaldiçoadas de Jusenkyo, por isso se transforma em uma versão feminina de si mesmo quando molhado com água fria, mas volta a ser homem ao ser molhado com água quente. Sendo disputado por quatro noivas diferentes, e por vários homens que caem em seus encantos na sua forma feminina.
Novamente está presente a dualidade de gêneros na mesma personagem, mas ao contrário de se parecer um homem (Lady Oscar), ou de se desfarçar de homem (Princesa Safire) Ranma é homem. Pelo menos a maior parte do tempo. O contra-peso da questão está na figura de Akane Tendo, estudante que apesar de ser extremamente cortejada pelos garotos da escola, repele os homens - a custa de muita pancadaria por sinal, dizendo que só vai sair com quem vencê-la na luta. Ela é a filha mais nova e herdeira do Dojo de sua família, e foi prometida como noiva para Ranma, apesar de ambos repelirem essa idéia. Acontece que quem a vence pela primeira vez na vida é justamente Ranma na sua forma feminina. Ao descobrir a verdadeira situação do seu “noivo”, Akane passa o restante dos episódios tentando se tornar uma lutadora mais eficiente – e não conseguindo; e Ranma tentando deixar de se transformar em mulher – Idem.
É curioso notar que enquanto o Estado Japonês incentiva as mulheres a desempenharem o papel de dona de casa, a família Tendo faz o mesmo com a jovem Akane, mas esta recusa a situação. E apesar de ser a filha mais nova, é a herdeira. Ou seja, aquele Sistema Ie que conversamos no começo da matéria já está se esfarelando.

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