sexta-feira, 15 de março de 2013


"Doía suas coxas.Doía todo seu corpo para falar a verdade. Mas era conseqüência dos exercícios de alto impacto que ela insistia em tentar executar no ritmo da música. Ela acreditava mesmo nisso. Que sua dor vinha da academia. Como também acreditava que a culpa de não conseguir concluir as repetições era devido a sua falta de ritmo, e não culpa da professora. A professora era perfeita, ela que era estragada por dentro e por fora. A professora, com seu top profissional que não retinha líquidos, com sua bermuda que parecia uma segunda pele, de tão justa e brilhante, era bem diferente dela, com sua camiseta ensopada de suor e sua bermuda larga, torta e mal costurada. Ela se sentia assim, no espelho durante a aula: larga e torta. Todo início da aula ela se lamentava e se culpava de estar ali; no fim, ia trôpega andando para casa. Mas desde que a professora deu um tapinha nas suas costas – TOCOU NELA – e sorriu – ELA SORRIU – e disse que ela estava melhorando – ELA FALOU – ela passou a sentir outra espécie de dor. Algo que a apertava mais que qualquer Lycra seria capaz. Algo que tirava seu fôlego, como se o peso dos halteres fosse dobrado, triplicado. Algo que a fazia muda e não era só a timidez. E essa dor sim, ela sabia, era culpa da professora. Da professora com seu corpo, sorriso e sendo de ritmo perfeitos."

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