terça-feira, 11 de junho de 2013



“É um tiquinho assim”, e levantou seus dois indicadores numa distância razoável, um pouco menos de um metro, foi o que pensei. Ela me disse que, como todo mundo, separava as pessoas em blocos. Mas o seu critério era diferente, não era por tamanho, cor, possibilidade para sexo, importância financeira, contatos mercadológicos, conhecimentos em informática, nada disso. Era uma questão de distância. Eu realmente não entendia. “São dois palmos”, ela insistia, “e esse tanto” mostrando os dedos, “que fazem toda a diferença”. Eu me mantinha sorrindo, com meu copo quase cheio e quase quente, e pensando que eu devia entender o que ela estava dizendo, ou fingir pelo menos, se eu quisesse leva-la pra cama. Ela levantou as mãos abrindo bem os dedos, e depois girou uma mão me mostrando a palma de uma e as costas de outra, e uniu o polegar e o dedo mindinho, “Dois palmos” repetiu e colocou as mãos no seu tronco deixando o polegar bem no meio dos seios. “Do meu coração até minha vagina são dois palmos; é essa distancia que as pessoas tem que percorrer tanto para cima quanto para baixo”, fiquei meio bobo tentando assimilar aquilo, era uma honestidade que não estou acostumado. “E isso aqui”, mostrou novamente os dedos distantes um do outro, e depois colocou o da mão direita no mesmo lugar onde estava antes o polegar, abrindo o outro braço para o lado definindo no seu corpo aquela largura que tinha demonstrado no ar, “é a distância entre o meu coração e o meu dedo do Foda-se. É uma distância longa demais para qualquer um. Quem eu quero que se foda, quero bem longe de mim.” E onde eu estou, perguntei sem saber muito bem o que estava fazendo. “Você está bem aqui” e levantou o seu dedo médio e quase enfiando na minha cara, “na ponta da lasquinha do esmalte”. Tinha entendido o suficiente, ela não precisava ter continuado, “quero que você se foda bem longe de mim”. Levantei meu copo, e sai sorrindo. Era só o que podia fazer.

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