"Sabe como chama isso?
Ele perguntou passando os dedos pelas
pintas que ela tinha pelo corpo. Ela pensou em falar que era uma espécie de
liga-pontos, que se ele ligar todos os pontinhos vai aparecer a palavra foda-se.
Ela tinha o costume de sorrir para que lhe eram indiferentes, tratava bem as
pessoas que não gostava, era comum isso para ela. E as pessoas que ela gostava,
demonstrava publicamente sinais de indiferença. Respondia casualmente alguma
pergunta, e dificilmente mantinha algum contato visual com qualquer um que lhe
fizesse sorrir. Ela era estranha, admitia. Mas seus amigos, de alguma forma,
sabiam que eram amigos. Conseguiam reconhecer alguma manifestação velada de
carinho. E agora ela estava ali. Nua, dividindo o lençol com um pentelho que
com certeza está querendo fazer alguma graça. Ela pensou em mais duas ou três
respostas grossas. Uma era boa o suficiente para colocar no face mais tarde. Mas
ela ficou quieta, olhando aqueles olhos e com medo de parecer idiota. Decidiu sair
da cama, pegar uma calcinha nova e ir fazer um café.
Melanócitos.
Ela respondeu, mais brusca e menos
fria do que gostaria. Droga. Acho que estou apaixonada. Pensou, deixando o
chinelo para trás e indo correndo para a cozinha."
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