terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Andava de meias nos últimos dias, rodando sem parar pelo apartamento vazio. Pisou no relóginho de plástico e a cara do palhaço marcava a mesma hora de sempre: tarde demais. Quase pensou em guardar em algum lugar, mas deixou cair, se esquecendo dele novamente. Se esquecia de todos os vestígios espalhados pelo chão. E evitava lembrar dos pratos na pia. Foi ao banheiro, e o espelho já não estava lá, era bom não se olhar. Assim não lembrava de si. Havia um patinho de borracha que o encarava, não parando de sorrir apesar da secura de 5 dias. Havia pelo corredor restos de balões, que agora fazia um mosaico emborrachado de um colorido coberto de pó; com um pouco de paciência e ar, poderia se ler as parabenizações que nunca houveram. Se arrastou até o último quarto e lá sentou novamente, como veio fazendo ao longo dos suspiros que sobraram das lágrimas. Os ursos deveriam confortar e oferecer um carinho em forma de abraço, mas só havia escárnio naqueles olhares acusadores, eram inúteis agora, sabiam disso, e riam, e pareciam dizer que tudo o mais era inútil, já que não haveria mais riso, nem carinho para distribuir em forma de abraços, nem nada. Reparou na arma de brinquedo e não se pode dizer que pensou em algo. Colocou na têmpora de forma decidida e apertou o gatilho. Uma groselha escura sujou toda a parede.

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