"Aqui passava o bonde. Pensou,
enquanto dava um pontapé de leve numa pedrinha. Aquela pedrinha deve ter uns
500 anos, ou mais. Foi instantâneo o pensamento, no momento que foi coberta
pela sombra de um sobrado. E esse sol meu Deus, há quanto tempo? Estava
marcando o passado a cada passo. Estava assim, desde que percebeu que havia um
tempo para tudo. Se para tudo há um tempo, há quanto tempo para tudo? Perguntou
para si mesma, naquela confusão onde só ela se entendia, e nada importava, pois
nunca havia respostas. Eu nunca sei as respostas, eu só ponho para fora as
palavras e elas se encaixam, e as vezes acertam. Será que foram as palavras
certas, agora há a pouco? Se foi a pouco, porque digo “agora”? Estava cansada
de se confundir, ainda mais sabendo que era de propósito. Não tinha dado
nenhuma resposta porque, na verdade, não fora feita nenhuma pergunta. Lhe
pediram um tempo, ou lhe deram um tempo, ela não saberia dizer. Só sabia que as
coisas consomem tempo para se tornarem as coisas. O bonde sobre as pedras
iluminadas pelo sol teve seu tempo. E ela agora tem o dela. Tinha lhe dado um
tempo, ou pedido, não sabe, e por isso voltava sozinha para casa. Até quando?
Não perguntou, não tinha tempo para resposta."
quarta-feira, 22 de maio de 2013
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