quinta-feira, 2 de maio de 2013


“O metal frio sob a pele, rasgando e transpassando...” Pensou que daria um bom início de história enquanto realmente passada o metal frio da agulha naqueles pedaços de pele dos seus dedos. “Com uma linha, costurava calmamente sua própria pele”. Esse talvez já não fosse tão interessante. Era verdade, ela se costurava calmamente e isso não doía e não lhe trazia nenhuma espécie de redenção, nem se tratava de uma auto-afirmação, nada disso. Era só uma garota que percebeu que existia alguns trechos de pele sem terminações nervosas nos seus dedos e tentou passar uma agulha e estava vendo o que acontecia. Não era nada demais. Ela não precisa se afirmar para ninguém, não se incomodava com o próprios pecados – nem os chamava assim, e não acreditava que a dor produzisse algum tipo de prazer que não pudesse ser conquistado com vinho, ou línguas. Essa era a verdade. E verdades não produziam bons parágrafos. Nenhum que ela tenha lido pelo menos. “Sem algum sentimento de piedade, atacou sua própria carne”. Poderia ser verdade, se fosse carne aquilo que alinhavava, às vezes admirando, às vezes pensando em outra coisa. Algum tipo de prazer poderia ser de verdade. “Cansada, diante de tantos corpos e tanto sangue, a Jovem Guerreira abaixou sua espada, ajoelhou e antes de descansar, agradeceu aos céus por estar viva” podia ser o final de um mangá. Ela escreveria um mangá se tivesse paciência para isso, e se imaginasse que alguém fosse ler. Olhou para aqueles pontinhos que tinha feito perto de sua unha, achou graça e logo se esqueceu deles, quase no instante que largou a agulha e a linha em algum lugar que não se irá se lembrar até vê-las de novo. A vida acontecia em algum lugar, havia livros para ler, algum tipo de prazer poderia acontecer de verdade, e frases soltas e histórias ruins não lhe interessavam mais.

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