terça-feira, 6 de julho de 2010

"- Eu fui até o rochedo durante a madrugada, me guiando apenas pelos dedos e pela oração. Os dedos que ainda tinha, o teu cheiro impregnado. O cheiro que o vento trazia até meu nariz que morria afogado em saudades. Morrer afogada em saudades. Rezava. Rezava e pedia perdão pelos meus pecados da carne minha com a tua. Dos nossos dedos em nós. Rezava, tateava, e ouvia o mar noturno e assustador, gritando meu nome no inferno. Quando o sol começou a nascer, eu puder ver de cima as pedras, as ondas, as espumas e o que tinha que ser feito. Rezava sem para ser perdoada, Santa Maria era mulher, deveria entender, não tinha conhecido homem, era como eu. Rezei, rezei, rezei e pulei. No inferno frio, escuro e molhado. Não morri. Mas sinto que lavei todos meus pecados. Agora estou pura novamente.
- E molhada.
- Sim.
- Está lavadinha agora?
- Sim. Estou pronta para pecar de novo.
- Se você for fazer isso toda vez, vai acabar gripada.
- Pensei que você gostasse de mulher limpa.
- Vem, deixa eu te esquentar.
- Foi por isso que fiz isso.
- Para quê?
- Para a gente ficar juntas assim."

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