segunda-feira, 19 de julho de 2010

"Foi só olhar para baixo que viu a mancha. Ali, na própria camisa. Sem pensar uma vez, passou a mão. A mancha ficou maior. E com outra cor. Além do vermelho original, o que sobressaía era um tom marrom. Olhou para a mão. Limpa. Alisou novamente, quase esfregando. A mancha aumentou, a camisa ficou úmida. Depositou o café que estava na outra mão em cima do balcão, sem notar que estava no meio de um corredor, tirou a parte que estava dentro da calça, afastou a gravata e levantou a camisa. Ainda sem pensar, se assustou com o que não viu. Não havia pele. Nem gordura, nem músculo, nem osso. Havia um coração. Exposto. Que batia compassado com o relógio, embora isso ele não tenha notado. Ainda. Quando finalmente começou a pensar, só conseguiu compor uma pergunta: Porque você é marrom? Sem saber responder, não estava acostumado, se re-compôs. Ajeitou a calça, a gravata e olhou para a mancha que ocupava já uma grande parte do lado esquerdo da camisa. Olhou o café sobre o balcão, e virou o copo sobre si mesmo, encharcando o lado direito, tornando a camisa por igual, suja e molhada. Retornou a sua baia, e sentando quase disse em voz alta: ninguém vai perceber a diferença. Mas não podemos chamar isso pensar, não é?"

Nenhum comentário:

Postar um comentário